Condenação no TRF4 não afeta favoritismo de Lula nas eleições
Para especialistas, a falta de adversários de peso favorece o ex-presidente.
Lula esteve hoje com militantes petistas no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo
Condenado nesta quarta-feira (24) pela 8ª Turma do TRF4 (Tribunal Regional Federal da 4ª região), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) continuará sendo o favorito para as eleições presidenciais de outubro deste ano, segundo especialistas entrevistados pelo R7.
Apesar da derrota no julgamento de hoje, eles apontam que o ex-presidente irá se manter como líder das pesquisas de intenção de voto, pela falta de adversários políticos com o mesmo peso, embora Lula ainda tenha de se explicar quanto às demais denúncias que responde no âmbito da Lava Jato.
Com o placar de 3 a 0, as chances de Lula disputar a eleição ficam menores, já que ele pode ser impedido de concorrer ao Planalto por força da lei da Ficha Limpa, que barra candidatos condenados por órgão colegiado (quando há mais de um juiz). Mas há uma série de recursos no STJ, STF e TSE que podem garantir Lula na campanha eleitoral. O imbróglio judicial deve se arrastar para dentro da campanha.
“Ele pouco perde, sobretudo porque no cenário político não há quem tenha densidade eleitoral como a dele”, afirma o filósofo Roberto Romano, professor de Ética e Filosofia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
— Não vejo desgaste, a não ser em determinados setores muito retrógrados, que têm um ódio visceral desde a época em que Lula foi candidato em 1989. Mas agora ele terá todo o tempo até a decisão final no STF, com pedidos de reanálise das decisões inferiores. Ele vai ter tempo de fazer e continuar sua campanha, por isso ele não perde.
O sociólogo Paulo Silvino Ribeiro, professor da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), também avalia que a indefinição dos adversários e a falta de um segundo nome de peso na disputa presidencial é um fator favorável a Lula. Para ele, mais do que prejudicar o petista, a condenação de hoje causa “incertezas” no eleitorado, já que o voto no ex-presidente poderá não ser validado ao final.
— Lula vai para a eleição com a mesma imagem já deteriorada [pelas denúncias dos últimos anos]. Não acho que deteriora mais. Mas causa um efeito de suspensão, que é mais prejudicial, porque as pessoas não terão certeza se o voto que vai para ele de fato terá validade. Ninguém quer votar em candidato que vai perder ou que não se sabe se poderá assumir.
A cientista política Maria do Socorro Braga, professora da UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos), afirma, por outro lado, que a imagem do presidente será sim afetada junto ao eleitorado por causa da condenação. Ela diz, no entanto, que o apoio ao ex-presidente é mais influenciado por questões de ordem econômica do que judiciais.
— Abalado sempre fica. Mas o apoio ao ex-presidente tem o contexto econômico do desemprego, de o presidente [Michel] Temer tentar passar reformas impopulares. É isso que leva a esse apoio grande a Lula. E [o apoio] também passa pela avaliação positiva de seus dois governos.
Qualidade das provas
Outro motivo alegado pelos especialistas é a qualidade das provas usadas na condenação de hoje.
“Muitos eleitores vão falar que a decisão é fraca”, afirma o cientista político Wagner Pralon Mancuso, professor da USP (Universidade de São Paulo).
— As críticas às decisões do Moro são muitas e há muitas evidências de problemas na decisão. Pode aumentar a tendência de que Lula foi condenado sem provas. A não ser que ele venha a ser condenado em outro caso, com provas mais sólidas. Se Lula fosse pego com mala de dinheiro ou flagrado pedindo recursos, aí seriam outros 500.
A condenação será ainda mais questionada, na visão de Mancuso, se a situação econômica do país não melhorar, sobretudo se o alto nível de desemprego não recuar.
— Os empregos que estão sendo criados estão na informalidade, ou então são precários, intermitentes. Nesse cenário, Lula terá duas estratégias: dizer que foi condenado injustamente por uma questão política e dizer que no tempo dele era melhor. Ele vai levar isso até o limite.
Ribeiro também aponta “fragilidades legais” no processo, mas que Lula poderá ter sua candidatura não aceita pela Justiça Eleitoral, caso seus recursos sejam julgados e negados pelo STF antes do dia da eleição.
— Rei posto é rei morto. Se for condenado na última instância, não há para onde recorrer. Mas esse processo é muito moroso, e o interesse dele é vincular a candidatura até agosto. Ele precisa ver até que ponto ele deveria levar ao fim e ao cabo a sua candidatura.
Para Mancuso, a corrida presidencial em 2018 terá elementos novos na comparação com as últimas eleições, que é a ampliação das investigações de corrupção em outros partidos. Ele cita, por exemplo, a prisão temporária da irmã do senador Aécio Neves (PSDB-MG), e os R$ 51 milhões encontrados em um apartamento em Salvador ligado ao ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA).
— Todo mundo está igualado por baixo nessa questão ética.
Apesar de todo cenário de incerteza com relação à candidatura de Lula, o filósofo Roberto Romano, da Unicamp, afirma que o petista deveria insistir em seu nome, até pela falta de opções dentro do próprio partido.
Nomes como o do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, do ex-governador gaúcho Tarso Genro e do ex-governador baiano Jaques Wagner são vistos como lideranças regionais, segundo Romano. Ele avalia que ficar sem um plano B “não é perda de tempo”.
— Lideranças nacionais não se fazem em meses, se fazem em muitos anos. Liderança nacional não faz assim só no marketing, mas com trabalho de base.
FONTE: R7